DE
BOQUIRA À SITUAÇÃO TRÁGICA DE SANTO AMARO- BA
BARROS,
Ezequiel Pinheiro de.
1
Graduado em Engenharia de Minas pela Universidade Federal da Bahia, Graduado em Engenharia Civil pela Estácio e pós-graduando
em Mineração e Meio Ambiente pela UFRB, Polo de Campo Formoso, Bahia.
RESUMO
Boquira
é uma cidade baiana localizada no sudoeste baiano com uma população de 22.448
(IBGE, 2016ª) e a exploração de minério de chumbo começou na década de 1950
pela Penarroya S.A. que criou a sua subsidiária COBRAC ( Companhia Brasileira
de Chumbo) para atuar no Brasil. Boquira possuía em seu território um
afloramento de cerussita, carbonato de chumbo alterado da galena, iniciando uma
usina de flotação. Após a concentração, era enviado a Santo Amaro, Bahia e lá
produzia-se ligotes de chumbo com 100% de pureza (FERRAN, 2007). Após a
solicitação de licenciamento feito pela COBRAC em 1974 ampliando a produção de
30 para 45 mil toneladas de chumbo metálico, e o seu indeferimento, finalizou-se
o período de operação, mas continuando a degradação ambiental do ar, do solo,
das águas, da fauna, da flora e da população local. A Plumbum Mineração e
Metalurgia Ltda comprou da COBRAC a usina em 1989 e solicitou ao Centro de
Recursos Ambientais (CRA) a licença de operação, obteve deferimento dependente do
atendimento de 27 condicionantes em 3 anos. Finalizou as operações no terceiro
ano, no entanto continuou degradando o ambiente até os dias de hoje deixando um
passivo ambiental. Apesar de vários estudos efetuados da época até os dias de
hoje para descontaminação do local, nenhuma atitude foi efetivada.
Palavras
Chaves: Chumbo, Galena, Contaminação por chumbo,
INTRODUÇÃO
A
descoberta casual de Macário (Padre que largou a batina após encontrar o
minério de chumbo na região) levou o distrito de Assunção a uma emancipação
política transformando-o em Município de Boquira em 1962 e em 1970, com o auge
da produção, o município conheceu a prosperidade mas sofreu com a desativação
da mina em 1992 (CAMLELO, 2006) esperando por um a Plano de Recuperação de
Áreas Degradadas (PRAD) focando na disposição irregular e fora dos parâmetros
ambientais, de rejeito de beneficiamento com teores de prata, chumbo, arsênio,
zinco e cádmio que põem em risco os mananciais e solos após o rompimento de uma
barragem de rejeito (DNPM, 2006) e ainda, sem preocupações das consequências,
um lixão foi instalado nas pilhas de rejeito do beneficiamento, contaminando
continuamente as águas superficiais e subterrâneas com resíduo de chumbo que
escoa carreados por águas de chuva para o solo.
A
produção mineral de Boquira era encaminhada ao Município de Santo Amaro, que sediou
a metalúrgica COBRAC que produzia os ligotes de chumbo a 100% de pureza e já
prontos para venda. A produção de zinco era exportada.
A
empresa COBRAC iniciou suas atividades em 1960 e findou-as com a venda de suas
instalações para a Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda em 1989 que continuou a
produção tanto dos lingotes quanto da degradação sob o olhar do CRA (Centro de
Recursos Ambientais) que deferiu uma licença de operação durante o período de
operação e ainda hoje prejudica consideravelmente o desenvolvimento do município
condenando-o a uma vida marginal sem desenvolvimento, mantendo o município nas
mesmas condições de vários anos atrás.
LOCALIZAÇÃO
O
município de Boquira, na época, era a principal mineração do País, mesmo sendo
considerada de médio porte pelas escalas internacionais e ficava no Estado da
Bahia, no vale do Rio Paramirim, distando 28 km de Macaúbas, ao norte, distando
ainda 440 km em linha reta para Salvador e 667 km passando pelas BR´s 324 até
Feira de Santana, BR 116 até Argoim, entrando na BR 242, seguindo até o
município de Bom Sossego onde converge para o Sul na BA 156 por Oliveira dos
Brejinhos direcionando-se a oeste para o município de Boquira.
Já
o município de Santo Amaro, localizada no recôncavo baiano, a 500 quilômetros
da lavra e a 81 km de Salvador, seguindo pela saída para Feira de Santana, pela
BR 324, convergindo para a alça rodoviária da BA 420, chega-se a Santo Amaro.
ASPECTOS GEOLÓGICOS
O
chumbo na crosta terrestre é de apenas 0,002% com teores médios em várias
jazidas com 3%. Segundo Rocha (1973), a ocorrência de Anglesita(PbSO4 – Sulfato
de Chumbo), era conhecida desde o século XVII no município de Macaúbas que em
1955, com uma reserva de 7 anos. Tratava-se de uma ocorrência de chumbo, que
geralmente apresenta-se combinado com outros elementos, sendo os mais
importantes comercialmente, os minérios de galena(PbS), cerusita(PbCO3),
anglesita, piromorfita(Pb3Cl(PO4)3, vanadinita[PbCl(VO4)2], crocoita(PbCrO4) e
Wulfenita(PbMoO4). Inicialmente existia um afloramento Cerussita (PbCO3), um
minério alterado em Boquira, originado da oxidação e intemperismo da galena, localizado
no Morro Pelado, tratava-se da um carbonato de chumbo, fato este que gerou a
rápida explotação deste mineral, encontrando-se facilmente a galena, sulfeto de
chumbo, sob esta afloração
A
galena tem formação em veios associado a outros minerais como esfalerita,
pirita marcassita etc. mas no caso exposto em Boquira apresentou-se como
associação de rochas calcárias em veios, preenchendo os espações abertos em depósitos
de substituição, cristalizando-se no sistema isométrico ou regular, em cristais
quase sempre cúbicos ou octaédricos sozinhos ou combinados.
O
chumbo é um material cinza, com aspecto azulado brilhoso, do tipo não elástico,
riscável com a unha e mole deixando um traço cinzento no papel, muito dúctil e
trabalhável a frio, conduzindo razoavelmente o calor e a eletricidade pois possui
uma condutibilidade térmica de 0,83 cal/cm3/cm/oC/S a 0 grau e um aumento de
volume em torno de 6,1% a 20oC, ao ponto de fusão. Possui uma densidade de 7,2
a 7,6 e um peso específico de aproximadamente 11,37 com ponto de fusão a 327oC,
ebulição a 1717oC e antes desse ponto emite vapores tóxicos.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
A
mina de Boquira produzia um minério com teor de chumbo de aproximadamente 8,88%
além de teores de zinco e prata que tinham destinos comerciais. Desenvolvia-se
nessa planta de mineração a escavação de galerias com pilares centrais que
davam segurança a mina, e a retirada desse minério se dava por processos específicos
do método de lavra do tipo câmara de pilares.
Após
a retirada o minério, este era britado e moído e finalmente dividido para
seguir às separações gravitacionais e técnicas de flotação. Este beneficiado era
constituído por em concentrados de chumbo e outro de zinco a 70% e 51%,
respectivamente. Enquanto o concentrado de chumbo era destinado ao município de
Santo Amaro em caminhões, o de zinco era exportado, segundo Ferran (2007).
Em
Santo Amaro, o concentrado seguia a sinterização, redução dos compostos de
chumbo em chumbo metálico e seguia para os fornos revérberos que sofriam
oxidação em óxido de chumbo e sulfato de chumbo, os rejeitos desse processo são
os gases, e emissão de particulados e escória metálica, fundida e descartada
com teores relevantes de chumbo, zinco, e outras impurezas metálicas.
O
chumbo metálico amolecido originado no alto forno seguia para o processo de
vazão dos lingotes para então serem moldados e encaminhados para a venda em
caminhões.
CENÁRIO ATUAL
Atualmente,
Santo Amaro é a cidade mais contaminada por chumbo do mundo e sofre com as
consequências do uso irrestrito das escórias do processo de fabricação dos
lingotes de chumbo em pavimentação de ruas, construção das bases de residências
além da própria deterioração do meio ambiente de modo contínuo pelas pilhas de
rejeito depositadas as margens do rio Subaé, que passa pelo centro do Município
de Santo Amaro e alimentava os habitantes locais não somente com o uso da água
mas também com a pesca de subsistência. Não somente pela água houve a
contaminação, mas pelo ar, pelos particulados expelidos da chaminé da planta de
metalurgia contaminando o solo com a chuva ácida, os lençóis freáticos, águas
superficiais, a flora com a deposição destes particulados sobre as folhagens e
consecutivamente o fauna que alimentava-se destes para em seguida criar o
círculo de contaminação humana com a ingestão de alimentos intoxicados,
mariscos, gado e todo nutriente em contato direto e indireto com os resquícios
desta produção de lingotes.
Apesar
dos 40 anos de estudo, nada ainda foi implementado para resolver o problema do
Município de Santo Amaro na questão de descontaminação e com isso, toda uma
geração, quiçá duas, continua sofrendo com as decisões irresponsáveis da instalação
da metalurgia, sem os critérios mínimos para a conservação do meio ambiente,
sem o conhecimento técnico e sem o auxílio no entendimento de uma situação
crítica na instalação de empreendimentos potencialmente poluidores, tudo isso
como consequência da realidade passada e com a falta de avanço do município no
atual cenário econômico, resta apenas rezar para que as providências referentes
a descontaminação sejam iniciadas e Santo Amaro volte aos trilhos da
prosperidade.
REFERÊNCIAS
Projeto Santo
Amaro – BA: aglutinando ideias, construindo soluções – diagnósticos/Eds.:
Francisco Rego Chaves Fernandes, Luiz Carlos Bertolino. Silvia Egler – Rio de
Janeiro: CETEM/MCTI, 2012). 2ª Edição.
DANA, J.D. (1978)
Manual de mineralogia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientificos Editora
S.A
IBGE, 2016. Contagem Populacional de 2016. Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, dados referentes ao município de
Boquira, fornecidos em meio eletrônico. Disponível m:http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/
temas.php?lang=&codmun=290410&idte ma=130&search=bahia%7Cboquira%7C-.
Acessado em 16/05/2017